Desde que a Ju sugeriu o tema casa\ lar, a única coisa que me vem a cabeça é “Era um casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...” E isso tem bloqueado minha inspiração para o texto! “ ninguem podia entrar nela não, porque na casa, não tinha chão...” E então lembrei de um texto que me acompanha faz tempo, retirado do livro “ o corpo tem suas razões” da francesa Thérése Bertherat e resolvi compartilhar com vocês algo melhor do que “ ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede” !
Neste instante, esteja você onde estiver, há uma casa com o seu nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de fora só vendo a fachada. Não chega a morar nela. Essa casa, teto que abriga suas mais recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo.
"Se as paredes ouvissem..."
Na casa que é o seu corpo, elas ouvem. As paredes que ouviram e nada esqueceram são os músculos. Na rigidez, crispação, fraqueza e dores dos músculos das costas, pescoço, diafragma, coração e também do rosto e do sexo, está escrita toda a sua história, do nascimento até hoje. Sem perceber, desde os primeiros meses de vida, você reagiu a pressões familiares, sociais, morais. "Ande assim. Não se mexa. Tire a mão daí. Fique quieto. Faça alguma coisa. Vá depressa. Aonde vai você com tanta pressa? Atrapalhado, você dobrou-se como pode. Para conformar-se, você se deformou. Seu corpo de verdade - harmonioso, dinâmico e feliz por natureza foi sendo substituído por um corpo estranho que você aceita com dificuldade, que no fundo você rejeita."
É a vida, diz você; não há outra saída. Respondo-lhe que você pode fazer algo para mudar e que só você pode fazer isso. Não é tarde demais. Nunca é tarde demais para liberar-se da programação de seu passado, para assumir o próprio corpo, para descobrir possibilidades até então inéditas.
Ser é nascer continuamente. Mas quantos se deixam morrer pouco a pouco, enquanto vão se integrando perfeitamente às estruturas da vida contemporânea, até perderem a vida, pois se perdem de vista?
Saúde, bem-estar, segurança, prazeres, deixamos tudo a cargo dos nossos psiquiatras, arquitetas, políticos, patrões, maridos, mulheres, amantes, filhos. Confiamos a responsabilidade de nossa vida, de nosso corpo, aos outros, por vezes aqueles que não desejam essa responsabilidade, e que se sentem esmagados por ela: quase sempre àqueles que pertencem a instituições cuja primeira finalidade é a de nos tranqüilizar e, portanto, de nos reprimir. (E quantos há, independentemente da idade, cujo corpo ainda pertence aos pais? Crianças submissas, esperando em vão, durante toda a vida, licença para vivê-la. Menores de idade, psicologicamente, não ousam nem olhar a vida dos outros, o que não impede, porém, de tornarem-se impiedosos censores.)
Quando renunciamos à autonomia, abdicamos de nossa sabedoria individual. Passamos a pertencer aos poderes, aos seres que nos recuperaram. Se reivindicamos tanto a liberdade é porque nos sentimos escravos; e os mais lúcidos reconhecem ser escravos-cúmplices. Mas como poderia ser de outro jeito, se não chegamos a ser donos nem de nossa primeira casa, da casa que é o corpo?
Você pode, no entanto, reencontrar as chaves do seu corpo, tomar posse dele, habitá-lo enfim e nele encontrar a vitalidade, saúde e autonomia que lhe são próprias.
Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível.Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois, corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas a sua unidade.
Espero que tenham gostado tanto quanto eu gosto deste texto. “ Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos...número zero!)
Bjos.
Que legal esse texto, Quel!
ResponderExcluirBeijos
Músicas com os temas do blog sempre me grudam na minha cabeça também. hahha
ResponderExcluirMas que bom que conseguiu fugir da musiquinha. Mto bom o texto!
Beijos