segunda-feira, 4 de junho de 2012

Essa casa (muito engraçada) onde você mora

Desde que a Ju sugeriu o tema casa\ lar, a única coisa que me vem a cabeça é “Era um casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...” E isso tem bloqueado minha inspiração para o texto! “ ninguem podia entrar nela não, porque na casa, não tinha chão...” E então lembrei de um texto que me acompanha faz tempo, retirado do livro “ o corpo tem suas razões” da francesa Thérése Bertherat e resolvi compartilhar com vocês algo melhor do que “ ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede” !

Neste instante, esteja você onde estiver, há uma casa com o seu nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de fora só vendo a fachada. Não chega a morar nela. Essa casa, teto que abriga suas mais recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo.

"Se as paredes ouvissem..."
Na casa que é o seu corpo, elas ouvem. As paredes que ouviram e nada esqueceram são os músculos. Na rigidez, crispação, fraqueza e dores dos músculos das costas, pescoço, diafragma, coração e também do rosto e do sexo, está escrita toda a sua história, do nascimento até hoje. Sem perceber, desde os primeiros meses de vida, você reagiu a pressões familiares, sociais, morais. "Ande assim. Não se mexa. Tire a mão daí. Fique quieto. Faça alguma coisa. Vá depressa. Aonde vai você com tanta pressa? Atrapalhado, você dobrou-se como pode. Para conformar-se, você se deformou. Seu corpo de verdade - harmonioso, dinâmico e feliz por natureza foi sendo substituído por um corpo estranho que você aceita com dificuldade, que no fundo você rejeita."

É a vida, diz você; não há outra saída. Respondo-lhe que você pode fazer algo para mudar e que só você pode fazer isso. Não é tarde demais. Nunca é tarde demais para liberar-se da programação de seu passado, para assumir o próprio corpo, para descobrir possibilidades até então inéditas.

Ser é nascer continuamente. Mas quantos se deixam morrer pouco a pouco, enquanto vão se integrando perfeitamente às estruturas da vida contemporânea, até perderem a vida, pois se perdem de vista?

Saúde, bem-estar, segurança, prazeres, deixamos tudo a cargo dos nossos psiquiatras, arquitetas, políticos, patrões, maridos, mulheres, amantes, filhos. Confiamos a responsabilidade de nossa vida, de nosso corpo, aos outros, por vezes aqueles que não desejam essa responsabilidade, e que se sentem esmagados por ela: quase sempre àqueles que pertencem a instituições cuja primeira finalidade é a de nos tranqüilizar e, portanto, de nos reprimir. (E quantos há, independentemente da idade, cujo corpo ainda pertence aos pais? Crianças submissas, esperando em vão, durante toda a vida, licença para vivê-la. Menores de idade, psicologicamente, não ousam nem olhar a vida dos outros, o que não impede, porém, de tornarem-se impiedosos censores.)
Quando renunciamos à autonomia, abdicamos de nossa sabedoria individual. Passamos a pertencer aos poderes, aos seres que nos recuperaram. Se reivindicamos tanto a liberdade é porque nos sentimos escravos; e os mais lúcidos reconhecem ser escravos-cúmplices. Mas como poderia ser de outro jeito, se não chegamos a ser donos nem de nossa primeira casa, da casa que é o corpo?

Você pode, no entanto, reencontrar as chaves do seu corpo, tomar posse dele, habitá-lo enfim e nele encontrar a vitalidade, saúde e autonomia que lhe são próprias.

Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível.Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois, corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas a sua unidade.

Espero que tenham gostado tanto quanto eu gosto deste texto. “ Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos...número zero!)

Bjos.

2 comentários:

  1. Músicas com os temas do blog sempre me grudam na minha cabeça também. hahha
    Mas que bom que conseguiu fugir da musiquinha. Mto bom o texto!
    Beijos

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